Quantum heart by *dpadua on deviantART

Duende me pediu que lesse este e este post. Comecei a ler e já vi a palavra “imaginante” em meio à subcriação. Andei pensando em algumas coisas… estamos em todos os lugares em todos os tempos? A imaginação seria uma tentativa de mudar o foco de uma instância do ser para outra? E se um sonho fosse o momento onde essa mudança de foco acontece, sem as travas da consciência “desperta” constantemente direcionada? As pessoas estão se encontrando nos sonhos, em suas “instâncias quânticas”, sem saber? Pensar é causar?

dot not be afraid of dreaming, but be careful.
it can truly turns you off.


~ Foto: Kazi.

Pena. É o que dá fazer parte de uma comunidade de samba pisado. 8h de ensaios todos os fins de semana. 🙂 Mas eu dou um jeito de não perder o próximo, onde quer que seja.

ATUALIZADO // Deu tudo certo, as pessoas já estão começando a receber. 🙂

Uirá divulgando a situação: “Para quem não sabe, a equipe Cultura Digital já está a dois meses e meio trabalhando, sem parar e sem receber. Isso mesmo, não estamos recebendo nossos salários, nem ajudas de custo nem nada. Nosso contrato está parado numa das ilhas do imenso arquipélago burocrático do governo brasileiro. Não que já não estejamos acostumados a isso, já estivemos em situações piores nos tempos em que, ainda sem saber, ajudamos a fundamentar conceitualmente o programa Cultura Viva. Mas agora a situação está insustentável, MESMO!”

Pra quem não sabe, a ação cultura digital é um grupo de pessoas reunidas em 2003 colaborativamente na Internet (em sua grande maioria blogueiros, ativistas e pesquisadores) e foi responśavel por inventar (e mais tarde implementar) o que viria a ser o programa de inclusão social/digital do Ministério da Cultura do Brasil, o Cultura Viva, que põe em prática o uso, produção e reflexão de software livre e conhecimento livre em geral. Já entrando no terceiro ano de trabalho, a ação vem passando por inúmeras dificuldades, especialmente 3 meses de salário atrasado, o que interfere diretamente em sua capacidade de atender os pontos de cultura.

Parou em frente ao espelho, querendo estirpar aquela farpa boba da alma. O que fez de errado? Passou uma noite e outro dia sem entender. Não adivinhou que a paca não era uma capivara? E como se adivinha? Não se sentia em má índole. Não acusou nem foi berrar em entrelinhas que havia uma capivara repugnante estacionada diante de casa! Ao contrário, desconfiou de si mesmo, não de outrem, questionou se estava louco. Guardou pra si. Capivaras não moram nessas bandas.

Hora da tarde, perguntam “E então, que bicho é esse?”, e honestamente escapa um “Parecia capivara”. “Paca”, disseram, e proclamaram revolução por não ser adivinho.

Revolução que separa. Revolução que rejunta. A pergunta está lá fora e a força na fragilidade de outrora.

Outro dia de merda.

15 Mar
2007

Aos poucos entendemos porque alguns pecados são capitais.

Um dia de merda.

9 Mar
2007

Hoje eu ajudei a salvar a vida de uma mulher de 26 anos. Ela teve um ataque epilético.

Vi seu corpo tremendo, sacudindo involuntariamente, enquanto seus olhos verdes arregalados fitando o nada lacrimejavam sem parar, a boca entreaberta, os dentes cerrados e a língua se enrolando por detrás deles, obstruindo o ar. Primeiro tive de enfiar meu dedo em sua boca com força. Fui mordido num dos machucados de percussão. Então a impedi que fechasse de novo fazendo-a morder um lápis. Nessa altura, ela estava respirando com tanta dificuldade que começou a ficar roxa, o corpo serenamente desligando. Aquele esmeralda desconhecido virando vidro desolado, como a areia do deserto depois de uma explosão nuclear. Pensei que ia morrer nos meus braços, me vi em choque diante do corpo dela resfriado no meu colo, incapaz de reagir contra si mesmo. Eu a dei um abraço e aí ela desengasgou da baba que estava em sua garganta. Pouco a pouco, cessou a tempestade em sua carne. Outras pessoas ajudando, buscando socorro, um rapaz veio e carregamos andar acima a moça pra que no sofá se recuperasse. O tempo seguiu, veio família, vizinhos, ambulância, veio gente. O pai dela disse que a garota é difícil, não toma o remédio, dorme mal, não se cuida. Afastei-me de tudo aquilo e fiquei contemplando o céu.

Larguei tudo e fui beber uma cerveja sentindo o sol se pôr.

Existem problemas. E existem problemas.

duplipensar do dia

7 Mar
2007

separar é juntar.
autoridade é autonomia.
crueldade é carinho.

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Foto: Daniel Pádua.


foto: Daniel Pádua.

Caí da cama, como um trapezista distraído.
Fiz muitas estripulias e perdi o senso.
De perigo, de cautela.

A casa inteira irradiou seus raios de sol…
Vi que o céu está comigo
E me senti esquecendo de contar suas estrelas…

Então subi na rede, revirei seus retratos.
Viajei praqueles tempo de sorriso, de glória, de saudade, de perda, de esperança.
Deixei minha alma doer. Ciúmes? Não, outra coisa…
Como se um espelho fosse tirado da minha face perdida

Pra eu ver um jardim de todas as cores
Pra eu entender, pra ter o cuidado certo
Pra ver que você é maravilhosa, Tatiana
Pra ver os teus amores foram dignos
E os teus anos guerreiros moldando suas lágrimas

Desejei um outro mundo, mais faceiro, mais adociçado
Marcar pegadas juntos na terra batida
Estar sempre colado, aprendendo as texturas dos lados
Gravando cada arfar, cada sorriso e cada gozo
Desenhar roupas jamais feitas
Pagar micos de mãos dadas
Correr nosso rio em todas as direções

Construir a mais bela história de todos os tempos
Nos mais belos detalhes de todos os espaços

Você me ganhou, menina
Essa vida inteira no teu olhar é a íris da nossa aliança
Dourada e simples
Feita de cada novo-velho, fugaz-eterno
Incrível instante

Abra os olhos.

1 Mar
2007


foto: Samantha Wolov.

Sinta a raiva que cresce como um baobá
Sob a púrpura noite deste cerrado hostil

Como um banho, descarrego o gozo
Da ira que descasca a tua superfície gasta
Imprestável

Tua carne viva expõe a verdade
Lições, brutas
No miolo desta chama de ódio
Que não poupará nem o mais cego dos covardes
De um terror revelador

E felizmente fugaz

É uma pena que não tenham restado políticos com culhões do nível do Brizola. É uma pena que a mão forte da elite continue moldando nossa história. SALVE BRIZOLA! VIVA A INTERNET! (via Duende)

Fúria de vida

23 Feb
2007

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Em meio à combustão coletiva, labaredas como você nunca viu.
Emaranhar sentimentos é de verdade. Dói. E não sai.

A carta

22 Feb
2007

Havia uma margarida no canto da cama. E uma carta.
Papel laranja, texto em preto, escapando pelas dobras.
O odor indicava que alguém havia fodido agora há pouco.
Um espelho. Vi minhas roupas cobertas de pó.

Silêncio.

Caminhei até a cozinha, guiado pelo perfume do café.
Ali não tinha nada. Só uma mesa. Apenas uma cadeira.

O sol fraco da manhã fria embalava tudo em plástico.

Sentei. Abri a carta.
Nela dizia “tens todas as chances”. Mas quem era eu?
Voltei pro quarto. Minhas pegadas amassando o nada.

Mergulhei no espelho.
O cheiro de café perdeu-se no abismo.
Do corpo rasgado rios vermelhos pintaram o céu de mim.
Cardumes dançavam enquanto a languidez tirava o plástico
da realidade. Sereias nuas me observaram, enquanto trançavam
a barba de um ser gigantesco, que não ousei olhar. Montanha-russa.
Vento no rosto. Como a águia em seu mergulho caçador,
ou o metrô de Sampa, impetuoso. Estatelei morto no fundo de algum oceano.

Vi você. Pele fértil. Brotavam doçuras e cores da sua alma.
E eu ali, como um rei. Crianças imitavam meu andar. Você
bailava o ambiente, sorrindo. Tudo se movia levemente.
Uma chave emergiu entre algas. Brilhava tanto que estrelas
sublimaram, róseas, ao seu redor. Soube que era nossa.

Nas minhas mãos, enrijeceu, procurando sua volúpia.
O estômago retorcendo. Todas as vassalas cantando sussurros.
Pernas macias, como raízes de seda. Sua caixa de pandora
de encaixe perfeito. A mão ali, recolhendo o mel dos teus favos.

“Beba” – abençoou a sereia-mãe.

Silêncio.

Tatear com a língua toda uma beleza ancestral, perdida
nas runas do seu mistério. Chorei. Engoli. E você, entreaberta
na perdição, esperando um príncipe feito do meu, do teu céu.

Francisco é sua própria casa, enfeitada com margaridas.
Lembra a mãe. Lembra a montanha.
Cheira a café em manhã fria.

O vento ainda soluça o amor que o espelho refletiu continuamente, secretamente distraído.

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