Sobre a questão do aborto

1 Jan
2009

(comentário publicado originalmente no artigo “Brasil: Contra o Aborto Ilegal, ou Contra as Mulheres?”, do Daniel Duende para o Global Voices Online)

Uma vez perguntei ao Daniel Duende: “Imagine um mundo ainda sem leis sobre aborto. Se uma mulher engravidasse, tendo todo o apoio e condições, e não desejasse o filho, mas o pai o quisesse, o que seria eticamente correto: continuar a gestação, e após o nascimento, entregá-lo ao pai, ou, fazer o aborto e permitir a escolha da mulher de não passar pela gestação e suas complicações?

Eu não queria uma resposta. Queria o debate. Cheguei a brincar: “se fosse *comigo*, gostaria que a lei me permitisse ter meu filho, afinal foi feito 50% por mim“, mas de fato, seria muito mais difícil para mim decidir num caso hipotético e RARÍSSIMO como esse. Isso porque, na minha visão, o aborto envolve duas questões diferentes, mas que estão inexoravelmente ligadas:

(1) a responsabilidade pela gestação, totalmente a cargo da mãe e seus apoiadores, e (2) o direito do feto à vida e à liberdade como futuro indivíduo em potencial, e a devida criação por quem quer que seja.

Pensando a partir disso, deixo uma pergunta. Se coubesse a você escolher a quem dar o direito de interromper a gravidez, para qual caso seria: (1) o caso da garota baladeira rica e irresponsável que vai para a terceira vez abortando com Cytotec, ou (2) o caso da mulher favelada e cansada – oprimida e desapaixonada pelo marido cristão – que não quer ter o sexto filho, tão desejado por ele?

Seja qual for a sua reposta, MUITAS mulheres continuarão a abortar e MUITAS delas vão continuar morrendo, de um jeito ou de outro. Seja Pró-Vida ou Pró-Escolha, o tempo URGE por um pouco de realismo.

Cada caso é um caso. E aborto, ANTES de tudo, é uma questão de saúde pública.

1 Response to Sobre a questão do aborto

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yaso

janeiro 1st, 2009 at 20:40

A meu ver, urge uma solução de saúde pública para depois o debate vir. O que não pode é continuar a matança de mulheres por um defeito na legislação e na capacidade limitada de debate de quem faz a lei. Não adianta ficar discutindo quem quer o filho, de quem é a responsabilidade, enquanto um monte de mulheres precisam passar por um procedimento dos infernos por uma escolha que fizeram.

A natureza da escolha deve ser discutida sim, mas as mortes devem parar ANTES disso. A questão do aborto tornou-se um problema de saúde pública e discriminação, além de violação dos direitos humanos.

ps.: cada caso é um caso, mas AGORA eu não acho que o homem deva decidir sobre a responsabilidade que é da mulher, da gestação. que papo mais ~barriga de aluguel~…

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