Produção Multimídia, Narrativas Livres e Ativismo Open-source, por Daniel Pádua
Foram mais de dois mil quilômetros. Horas a fio, enclausurado no
perímetro da poltrona até bastante confortável do ônibus. Chegando lá,
perdido na multidão, só um ponto de encontro o guiava. Aquele entre a
rua e a água. E no meio de barraquinhas e expectativas, muitas
expectativas misturadas, ela inesperava num vestido de vovó, preto com
bolinhas coloridas na lapela. Com seu cabelinho punk rebaixado,
educada como lhe ensinaram… fazendo questão de disfarçar o brilho nos
olhos com um jeitinho do contra que enganava a todos, menos ao que
sentiam amor por ela. Por isso, o primeiro abraço foi mais que um
abraço, foi uma declaração. “Eu sei quem você é, garota! Ri um
pouquinho, vai?” As pernas cansadas vibravam bem dispostas, a cada
quilômetro que gastavam juntos. Não fazia sentido pra ninguém, mas como
poucas vezes sentiram, o calor do outro bastou. Por poucos dias, foram
dois. Eternos, pré-destinados, indispensáveis. Envolvidos sem véus. Sem
medo. Todo um novo mundo a se aventurar.
Mas o que ficou foi apenas o reflexo nas lágrimas que compartilharam
em despedida, num roçar da pele macia e adorável, de um rosto inesquecível. O rosto da companhia.
O avião deixou ali uma vida inteira.
2 Responses to NODOS. A arte de conjurar universos.
daniel duende
julho 19th, 2005 at 12:36
foda!
Bê.
julho 19th, 2005 at 19:34
Foi muito mais que ficou, pirata-navio.